Canoas é mesmo a cidade do Xis?
Em 2016 na Câmara Municipal de Vereadores de Canoas foi aprovada a lei que a auto-intitula a cidade do Xis. Versa a lei que “o Município de Canoas fica reconhecido como a Cidade Referência do Típico “Xis” Gaúcho.” e para que não haja dúvida do assunto, foi feita, em parágrafo único, uma definição bastante singela que “o típico Xis Gaúcho é o nome que se dá ao lanche composto de carne, que podem ser de diversas origens, como bovina, suína, entre outras, servido entre duas fatias de pão, com os mais diversos complementos e com o tamanho diferenciado, maior que os demais hambúrgueres do país.” Não definindo nada sobre o tipo de pão, maionese, tomate, alface, se o ovo é padrão e a eterna discussão sobre milho e ervilha. Pensemos em uma civilização alienígena chegando em Canoas depois da extinção humana, com fins arqueológicos, procurando o arcabouço organizacional da cidade para entender seus hábitos alimentares. Impressionada que um deles tem até uma lei, teria certeza que esse prato é muito importante para os que ali viviam. Após decodificar a linguagem e lerem a lei, o que eles poderiam imaginar? Para fazer esse exercício entreguei o texto da lei na íntegra para uma Inteligência Artificial generativa produzir a imagem do que ali é descrito. Os resultados são esses:
A imagem em destaque foi a mais próxima que a IA conseguiu entregar. Ainda assim possui diversos elementos do cheeseburger norte americano como cheddar, picles e pão com gergelim.
César Augusto Ribas Moreira (PRB), o vereador que propôs a lei, sofreu diversas críticas na época. Tendo inclusive votos contrários a criação da lei pela bancada de oposição (PT). A polêmica foi grande e ele foi questionado se não havia projetos mais importantes para escrever. Dez anos depois viemos aqui levantar novamente a polêmica e definir de vez se César estava certo ou não. Na esteira das cidades que se auto-intitulam representantes oficiais do xis, temos as leis de Santa Maria/RS e a mais recente de Criciúma/SC. Ao ler os projetos de lei das três cidades com suas muitas fragilidades me faço algumas perguntas: Qual a origem do Xis? Quais os requisitos deveriam pautar a escolha de uma cidade para representar nacionalmente um prato típico? Os projetos não deveriam detalhar melhor as características do xis, seus valores históricos e econômicos criando regras e dispositivos que preservem esse patrimônio? E por fim, será que Canoas é mesmo a cidade do xis?
A intenção aqui é fazer uma provocação para descobrir o que representa os hábitos alimentares do canoense e, diferente de muitos historiadores, não ignorar os povos originários como se o solo em que pisamos tivesse passado a existir somente depois da chegada dos tropeiros lagunistas chefiados por Francisco Pinto Bandeira. Há muito o que se falar sobre a informação amplamente difundida e pouco documentada de que o território era habitado pelos indígenas Tapes. Que fauna e flora eles encontravam por aqui? O que cozinhavam e o que ficou até os dias atuais? Não podemos esquecer das imigrações Alemãs, Italianas e Ucranianas, ou de comunidades pesqueiras como da Praia do Paquetá e os quilombos urbanos Chácara dos Rosas e Chácara Barreto. E não podemos nos esquecer que vivemos em uma cidade dividida, cortada, rasgada, segregada entre leste e oeste desde o início por uma ferrovia, estrada e depois pelo trensurb. Uma divisão que não é só geográfica, mas também social e com fragilidades distintas como quando acontecem as enchentes. Tudo isso conta a história do canoense e possivelmente influencia seus hábitos alimentares e de consumo. O propósito aqui é investigar a história da cidade e definir o que é afinal a alimentação que representa a cidade. Não que não possa ser o xis esse representante, mas caso for, a pesquisa pretende documentar de forma definitiva essa história.
Objetivos Específicos
O resultado dessa pesquisa estará de forma integral aqui no site para garantir o acesso amplo à comunidade. Será possível encontrar:
Roteiros gastronômicos e turísticos por temas como Noite com a galera; Pubcrawl; LGBTQIAPN+; Final de semana com a família; etc
História da cidade contada pela alimentação;
Entrevistas com personagens relacionados a alimentação disponibilizadas em texto e áudio.
Seção de receitas detalhadas ao máximo em texto, fotos e ilustrações, com versões técnicas e populares, sendo as 3 principais também em vídeo, interpretadas em Libras e legendas em português;
Espaço para conteúdo jornalístico em gastronomia canoense de caráter voluntário.
Benefícios para a Cidade
Pertencimento
A gastronomia representa um povo. Encontrar a memória da cozinha canoense, tem o poder de levantar um estandarte para a população defender e ter orgulho de sua cultura.
Educação
Professores de escolas de gastronomia, escolas municipais de ensino infantil, básico e fundamental, podem encontrar no objeto do projeto uma base de consulta para metodologias ativas de ensino e pesquisa.
Alimentação
Profissionais que preparam alimentos em instituições públicas podem usar o site como fonte de aprendizado de boas práticas de preparo de alimentos.
Turismo
O material proposto pode servir de consulta para empreendedores, incorporadoras, sindicatos patronais, corretores, turismólogos, agências de turismo, hotelaria e qualquer mercado que se beneficie da visita de turistas não apenas internacionais como nacionais, regionais e da região metropolitana.
